terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Interpretação e Memória:  Helenas



Ana Maria Haddad Baptista


HELENA/Rose Marie Silva Haddad




Uma das grandes dificuldades para se interpretar, devidamente e com maior exatidão, um texto, seja ele conceitual, seja ele um texto literário, ou mesmo a realidade que nos permeia, tem sido a ausência de referenciais, em todos os sentidos e graus.
Vejamos um caso bem atual: uma telenovela global. Nada contra as telenovelas. Aliás, muitas problematizam situações dignas de serem discutidas como, via de regra, tem ocorrido no cenário brasileiro. Entretanto, a nova novela global anunciada possui uma personagem chamada Helena! E o autor da telenovela já escreveu outras com personagens marcantes cujo nome foi Helena. O que tem ocorrido? Reportagens de tv e revistas em geral discutem Helena como se o autor tivesse sido o primeiro a construir uma personagem marcante chamada Helena! Ora! Por que ninguém faz a mínima alusão à primeira Helena do Ocidente que grande parte das pessoas deveriam conhecer? Porque faltam referenciais.
Homero há muito mais de 2000 mil anos construiu a Helena de Troia:

Helena paralisa quando avista a arca,
onde pan-ofuscavam pelos que tecera.
Divina entre as mulheres, Helena escolheu
o mais belo, o maior, o que mais rutilava,
uma estela de luz, sob os demais, por último.

Creio, convicta, que o fragmento exposto anuncia o que representa uma das maiores obras literárias de nossa cultura: Odisseia de Homero.
Contudo, lembro que nosso grandioso Machado de Assis não deixou por menos em pleno século XIX. Helena do autor brasileiro é um belo romance numa perspectiva romântica. A personagem possui uma construção irrepreensível! O ideal romântico permeia uma Helena delicada e, sobretudo, singular!

Retomando: nada contra as telenovelas, contudo, saibamos olhar com maior clareza a realidade que nos rodeia para não cair em armadilhas interpretativas. Muitas Helenas já foram construídas em épocas anteriores. E aqui fica um grande convite a todos: que tal lermos, mesmo que algumas partes, da Odisseia de Homero? Que tal lermos Helena do fascinante Machado de Assis?






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