sexta-feira, 28 de novembro de 2014



Das Liberdades

Ana Maria Haddad Baptista




As liberdades, abstrações não somente humanas, envolvem, fundamentalmente, 'insustentáveis tentáculos'. Ou seja: a liberdade é sempre pesada. Pesadíssima. E, desta forma, proponho o seguinte passeio pela classificação que inventei (inspirada em Borges...claro):

1. Girafas: aquelas que, via de regra, andam aos bandos. No entanto, sem avisar, desviam-se e seguem seu próprio caminho.

2. Professores: divido-os, grosso modo, em duas categorias. Uma delas: educadores ousados e desafiadores propõem possibilidades novas e de mudança. Leituras que desafiam compreensões comuns. Acreditam em seus alunos. A segunda categoria: professores que adoram a repetição. Fórmulas desgastadas. Odeiam os alunos. Adoram tabelas que possam ser decoradas.




3. Tartarugas: sob seu casco esconde-se uma grande liberdade. Uma grande audácia. Ou seja, se uma tartaruga 'embirrar' nada, absolutamente, nada pode fazê-la andar. Dentro de seus cascos nada as incomodam. Vivem uma liberdade plena como se não houvesse mais nada ao seu redor.

4. Advogados: divido-os. Há uma categoria que adora terninhos bem comportados. Segue a lei. Adora tabelinhas. E a outra categoria busca brechas na lei. Ousa. Desafia a lei.

5. Azaleias: são flores que determinam seus lugares. Decidem onde e quanto tempo morar. Se removidas de suas próprias escolhas, jamais voltarão a florescer. Muitas morrem. Mas. Não admitem mudar dos lugares escolhidos por elas mesmas.

6. Bibliotecários: há uma categoria que detesta livros. O cheiro dos livros. Adora classificar os livros. Quer os livros nas estantes. Imóveis e mortos. Mas. Há uma categoria de bibliotecários que gosta de ver livros pululando das estantes. Anima seus leitores. Sugere. Movimenta, de fato, o mundo das letras.




7.Gatos: a maioria ama a liberdade dos telhados. Rouba peixes das feiras. Há gatos que caçam passarinhos. A ausência da liberdade não existe em suas concepções, por mais simples que sejam.

8. Cavalos: nasceram para andar sob as estrelas e o luar. Prados e rios são metas das quais jamais se desviam.

9. Bois?????????????????????????

10. Cachorros?????????????????? A cada dia mais submetidos aos caprichos infames, mimados, hipócritas, dos humanos.





quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Universidade Nove de Julho, Letras  e Educação como prática da liberdade

Ana Maria Haddad Baptista














Tenho a satisfação, muito grande, de trabalhar com os alunos de Letras, noturno, segundo semestre, da Universidade Nove de Julho. Felizmente, além das leituras indicadas por cada disciplina, há um projeto de leitura que permeia o curso há muitos anos. Em que consiste tal projeto? Leituras em comum para todo o curso. Tais leituras possuem, em especial, o objetivo de integrar as disciplinas e formar os estudantes nos mais diversos aspectos, inclusive, o pedagógico. Os alunos em referência estavam discutindo a obra fascinante de Paulo Freire: Educação como prática da liberdade. E quais foram os principais pontos levantados por eles?

1.A questão da consciência: para Paulo Freire a conscientização de que a humanidade pode traçar sua própria história é um dos pontos essenciais de sua obra. Compreender que todos nós somos sujeitos de nossa história, desde que, saibamos em que medida também somos condicionados por valores que, muitas vezes, são legitimados por aqueles que fazem de tudo para se manter no poder .

2.A questão da temporalidade: o homem é um ser temporal. Mergulha no tempo. Possui consciência de presente, passado e futuro. Difere do animal que vive num tempo praticamente de presente absoluto. O homem pode planejar sua vida visto que possui dimensões de temporalidade, logo, de subjetividade.

3. A questão da cultura: para Paulo Freire todas as dimensões de cultura devem ser respeitadas. O grande pensador e educador lembra, a todo momento, que a nossa leitura de mundo precede a leitura da escrita, da linguagem materializada.
Naturalmente muitos outros pontos foram objetos de discussão entre os alunos se pensarmos, felizmente, que a obra em questão é riquíssima e um referencial importante para qualquer educador que, efetivamente, busque, a todo momento, ampliar sua consciência crítica.
Na minha avaliação, os meus alunos de Letras, da Universidade Nove de Julho, compreenderam, perfeitamente, a obra de Paulo Freire. Como sempre, meus alunos, encaram os desafios de leituras propostos, com bastante disposição, mesmo trabalhando e enfrentando as dificuldades cotidianas. Nessa medida, parabenizo-os pela leitura que fizeram. Admiro-os a cada aula. O melhor presente que um estudante pode dar a um educador é preencher expectativas e, muitas vezes, ultrapassá-las. Abraço a todos ternurosamente.

Profa. Ana Haddad  ( eterna torcedora do Coringão, diga-se de passagem, o maior time do planeta, e, ainda: Paulo Freire era corinthiano!)

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Educação & Artes: dos encontros fundamentais

Ana Maria Haddad Baptista




Existem encontros que são fundamentais. Fascinantes. Podemos nos encontrar com os rios. Rios cujas profundezas assustam. Podemos nos encontrar com a salinidade impregnante dos mares. E o sal pode queimar.
A FUNDARTE de Montenegro promoveu  o 24o. Seminário envolvendo temas a respeito de Educação e Artes. Diferentemente da maioria de Congressos, Encontros e Seminários, este Seminário que durou três dias,  como tudo que é bom, pareceu voar, tamanha foi a intensidade de tudo o que houve.







Tive a grande felicidade de ministrar oficinas relacionadas com a prática de leituras, arte e literatura. Deparei-me com um público variado, ou seja, alunos e professores, realmente, interessados em dialogar, em trocar experiências...Há muito tempo um encontro não me proporcionava uma satisfação tão intensa.
Lemos muitos textos e a partir desta estratégia, em grupos, os integrantes criaram escrituras  bastante instigantes. Parabenizo os participantes de minhas oficinas e espero reencontrá-los em outros momentos.





sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Educadores, cordeiros e submissão


Ana Maria Haddad Baptista


Sempre detestei fórmulas e classificações. Via de regra, elas  apontam para esquemas estabelecidos e rígidos. No entanto, o bom e saboroso Jorge Luís Borges fala de classificações com tanta ironia que sou obrigada a reconhecer, cada vez mais, que podemos falar a respeito do assunto. Na esteira de Borges, reconheço, proponho a minha classificação:
a. Educadores  cordeiros: o que amam as fórmulas estabelecidas. Adoram livros que trazem os exercícios prontos e com  respostas curtas e incontestáveis. Amam livretos com textos recortados por outros autores e que já indicam leituras aos alunos. Nessa medida, arrisco a dizer, com certa segurança, que tais educadores clamam, sempre, por vale coxinha, por um convênio dado pela empresa ou pelo governo e, principalmente, adoram uma cesta básica. Quanto mais fácil e tudo o que for doado, tanto melhor para eles. Tais educadores adoram pedir auxílio para o que quer que seja. E mais: somente produzem qualquer texto se publicados nas tais revistas indexadas. Palestras somente se aparecerem na mídia. Verdadeiros carneiros a serviço do estabelecimento de toda e qualquer forma de poder. Odeiam arriscar. Desconfiam eternamente de seus alunos.  Adoram colocar ‘peninhas’ e ‘fiapos de lã’ em suas avaliações.
b. Educadores girafas: são aqueles que vivem em busca de caminhos desconhecidos e jamais trilhados. Ousam. Recusam o estabelecido. Tais como as girafas...de repente mudam de direção sem comunicar o bando! Amam seus alunos por eles mesmos. Angustiados, sempre, à procura de melhorar o mundo. Buscam, fundamentalmente, valores. Fixar valores que, realmente, reduzam miserabilidades. Mas. Escolhem seus destinos, seus caminhos, sua comida, suas roupas. Inventam avaliações criativas e úteis. Conquistam o mundo naturalmente.