quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Néctar de Letras: Como se aprende a escrever? Escrevendo!

Ana Maria Haddad Baptista


Como escrever?


Escrever é um ato bastante distinto de falar visto que o ato de escrever exige, conforme se sabe, maior rigor gramatical, encadeamento lógico de idéias e outros elementos característicos do exercício de escrever.
A verdade é que escrever só se aprende escrevendo. Como aprendemos a dirigir um carro? Dirigindo-o! Como aprendemos a nadar? Nadando. Como aprendemos a amar? Diria o nosso querido poeta Carlos D de Andrade: amar se aprende amando. Ninguém nasce sabendo escrever. Não há inspiração. As Musas estão no Olimpo muito calmas nos dias de hoje.
Muitas pessoas ‘acham’ que para  escrever, principalmente, um texto ‘literário’,  basta uma boa inspiração e, de repente, o texto sai pronto, como num passe de mágica. Nada mais improvável. As palavras não brotam do nada. Para escrever é necessário que haja REPERTÓRIO. Como adquirir um bom repertório? Lendo! Não somente romances, poemas e outros do gênero. Vários tipos de textos favorecem a aquisição de um bom repertório de linguagem. Romances, poemas, jornais, revistas, leitura de mundo, experiência e muitos outros elementos formam, gradativamente, o repertório de uma pessoa.
Apontaremos, neste texto, alguns pontos que poderão ajudá-lo na hora da redação de qualquer tipo de texto. Ora jornalístico, ora monográfico, ou seja, pontos gerais que deveriam ser pensados sempre que alguém pensasse em escrever qualquer espécie de texto.



1.     Estruturação textual


Como deve ser estruturado um texto? Lembrando que um texto pode ser uma carta, uma reportagem, uma monografia  e outros.
Naturalmente deve possuir uma introdução, visto que será o início de tudo, logo, deve introduzir de forma clara e objetiva o que se pretende desenvolver depois.
Qual deve ser o tamanho de uma introdução? Depende do tamanho do que se virá depois. Caso seja uma monografia ou um trabalho, possivelmente, a introdução terá uma página. Se for uma tese de doutorado deverá possuir, no mínimo, dez páginas, se for uma carta deverá ser um parágrafo de mais ou menos cinco linhas e assim por diante. Toda introdução de um texto deverá ser proporcional ao desenvolvimento que se dará a ele.

Exemplo:

 

 Introdução


Nenhuma idéia da ficção científica cativou tanto a imaginação humana quanto a viagem no tempo. O que você faria se tivesse uma máquina do tempo? Você poderia ir ao futuro e tirar umas férias no século XXII. Poderia trazer de volta uma cura para o câncer.
Então, novamente, poderia retornar ao passado para salvar uma pessoa amada que você perdeu. Poderia matar Hitler e evitar a Segunda Guerra Mundial ou reservar uma passagem no Titanic para avisar o capitão sobre o icerbeg. Mas e se o capitão ignorasse seu aviso, como fez com todos os outros avisos sobre icebergs que tinha recebido, de maneira que o grande navio afundasse, apesar de tudo? Em outras palavras, será que a viagem no tempo permitiria que você alterasse o passado? A noção de viagens no tempo para o passado sugere paradoxos. E se, numa excursão ao passado, você acidentalmente matasse sua avó antes que ela desse à luz a sua mãe?

Veja que a introdução em referência aponta de forma clara e objetiva o que deverá desenvolver posteriormente.
O autor, Richard Gott, expõe as idéias iniciais do que deverá argumentar durante o texto.

Desenvolvimento

Mesmo que seja impossível alterar o passado, ir até lá ainda poderia ser bem interessante. Mesmo que você não pudesse alterar a história do curso que sabemos que ela tomou, ainda poderia participar da formação dessa história. Por exemplo, você poderia voltar no tempo para ajudar os Aliados a ganhar a   Batalha do Bulge na Segunda Guerra Mundial. As pessoas  adoram representar as Batalhas da Guerra Civil – e se fosse possível participar do acontecimento real? Escolher uma batalha vencida pelo seu lado lhe daria a emoção de participar da experiência, além da sensação segura de conhecer o desfecho. De fato, poderia acabar constatando que, no final, o curso da batalha foi desviado por turista do futuro. De fato, as pessoas cujo pensamento estava muito a frente de próprio tempo, como Júlio Verne e Leonardo da Vinci, forma às vezes acusadas de serem viajantes do tempo.

Se optasse por embarcar em uma viagem no tempo, você poderia criar um itinerário impressionante. Poderia conhecer figuras históricas como Buda, Maomé ou Moisés. Poderia verificar qual era realmente a aparência de Cleópatra ou assistir à primeira produção de Hamlet de Shapespeare. Poderia  se posicionar...

A esperança de que, algum dia, tal liberdade será nossa, cresce quando observamos que muitas façanhas antes consideradas impossíveis foram realizadas e são até consideradas necessariamente certas.

Considere...

As ideias sendo tecidas de forma clara e coerente.
O importante, neste momento, é observar como o autor estruturou o texto, ou seja, em partes. Não há parágrafos muito longos, embora o primeiro parágrafo esteja no limite, isto é, de 12 a 14 linhas.

Outro exemplo (inclusive sem o espaço paragráfico ):

Introdução

Em sentido amplo, conhecimento é o atributo que tem o homem de reagir frente ao meio que o cerca. Dessa forma, podemos distinguir três tipos de conhecimento: o empírico, o científico e o filosófico.

Desenvolvimento

Com relação ao primeiro, constatamos que, através dele, se apreende a aparência das coisas. Assim, observamos que o conhecimento empírico está situado na esfera do particular.

Quanto ao conhecimento filosófico, percebemos que o mesmo vai buscar a essência dos ser, já que o cientista, permanecendo na faixa do físico, não consegue atingi-la.

Em se tratando, porém, do conhecimento científico, observamos que o mesmo é orientado, sistemático e formal. A pesquisa científica exige método e ordenação. Conhecer alguma coisa é analisá-la profundamente, obedecendo a uma série de etapas e fatores. Essa persistência da busca é que vai permitir ao espírito científico equacionar o problema.

Por outro lado, a natureza, porque cognoscível, penetrável e investigável, é o objeto do conhecimento científico. Assim, ela não pode (como compreendia o homem primitivo) ser encarada como um complexo de forças misteriosas e inexoráveis.

Conclusão


Deve estar relacionada com o assunto desenvolvido e sintetizar as idéias finais a respeito do que foi argumentado.

Depreende-se do texto em questão a estruturação textual em parágrafos curtos, facilitando o entendimento do receptor, ao mesmo tempo que facilita a ordenação e o encadeamento das idéias do autor. Por isso aconselhamos uma estruturação textual baseada em PARÁGRAFOS CURTOS .


 


O que é um parágrafo?

Parágrafo, por definição, é uma unidade textual, redacional. Serve para tornar o texto (como um todo) divisível em partes menores, naturalmente, tendo-se em vista diversos enfoques.
O parágrafo deverá conter uma idéia-núcleo, ou seja, a idéia principal acerca do que se pretende desenvolver no interior do parágrafo.
Sugere-se, aos que possuem dificuldade na comunicação escrita, que busquem frases e orações CURTAS para não se perderem no encadeamento lógico de suas idéias. Lembre-se: o importante em todo  ato de comunicação é a SIGNIFICAÇÃO. Nada pior para um receptor do que ficar SOFRENDO para poder entender um texto e tal fato ocorre por inúmeros motivos. Eis os principais defeitos em enunciados... defeitos que atrapalham a CLAREZA, CONCISÃO, SIGNIFICAÇÃO, HARMONIA, ELEGÂNCIA, O PODER DE INFORMAÇÃO E A CONSTRUÇÃO DO SENTIDO de todo e qualquer tipo de texto:



1.  FALTA DE CLAREZA

Ontem vi o elefante  de seu cunhado.
Vendem-se apartamentos com zelador.
Comprei um cobertor para casal de lã sintética.
Comprei um sofá para três pessoas de couro.
Vi a cobra de sua sogra.
Amanhã verei o pato de seu irmão.


2. AUSÊNCIA DE HARMONIA

Janjão, o gostosão, gosta de melão do Maranhão.
Vesti um vestido  de veludo verde vindo de Vitória.
A manga madura do mato   matou Marieta Matos  que veio de Matão.


3. RIMAS DESNECESSÁRIAS


O Timão de meu coração deu de cinco a zero no Verdão que levou um sustão!
Quando te vi subi num pé de caqui e nunca mais desci!
Vou a Arujá tomar sorvete de maracujá do Paraná.
O peru estava  nu e cru.
Que mal há no festival de carnaval de Lamaçal?
A ilusão está presente em todo coração.
A solidão é uma ilusão que mata o coração de paixão.
A crueldade é uma grande maldade.


4. REPETIÇÃO DE PALAVRAS E IDÉIAS


A Educação é um processo gradativo, mas a Educação tem sido alvo de muitas polêmicas neste país porque a Educação é um passo importante no processo de qualquer país, portanto a Educação tem sido alvo de discussão de muitos países.


5. EXCESSO DE ‘QUE’

Espero que nossa argumentação que foi baseado em muitos fatos que marcaram o século passado que foi um século de muitos acontecimentos...


6. PROLIXIDADE OU AUSÊNCIA DE CONCISÃO

É uma realidade tradicional e costumeira que a diversão popular – e ela abrange várias modalidades circunscritas a épocas ou regiões diversas -  geralmente é oferecida ao povo (podemos remontar à Roma Antiga), visando não só ao objetivo precípuo da diversão (dar lazer a quem dele necessite), mas sim visando a uma alienação dos seres humanos e pensantes à situação política vigente, para que eles não pensem na fome, na miséria e na injustiça, suas companheiras constantes de infortúnio, dor e desespero.

A prolixidade é um dos piores defeitos de um texto. Torna-o enjoativo, cheio de informações desnecessárias e jamais seduz o receptor. Nada mais desagradável do que um texto prolixo.


7. MARCAS DE ORALIDADE

Então eu vi o acidente e assim... foi tudo muito rápido meu! Precisa ver galera, então eu peguei a filmadora de meus pais, daí fui filmando tudo e assim ... fui filmando o carro daí levei a bagagem para um outro lugar e então...Assim, meu, não deu certo veio, assim, não vi tudo, mais e daí, não é mano?

Lembre-se: a linguagem escrita é distinta da linguagem falada.



8. EXCESSO DE ADVÉBIOS

As chuvas invadiram a casa e definitivamente, os móveis foram danificados infinitamente, principalmente porque não eram de madeira e especialmente porque eram de um material muito mais perecível do que a madeira.

Lembre-se: o excesso de advérbios retira a força do texto.


9. EXCESSO DE ADJETIVOS

A rua da cidade era muito bela, maravilhosa, para dizer a verdade era uma rua  esplêndida! Que rua linda! Jamais vou esquecer o quanto aquela rua era marcante, arborizada e ensolarada!

Lembre-se: o texto ideal contém poucos adjetivos. O excesso de adjetivos retira a força do texto. Por quê? Porque os adjetivos, em relação aos substantivos, são, muitas vezes, transitórios, passam com mais facilidade. Além do mais, texto bom é aquele substantivado!

10. PALAVRAS  E EXPRESSÕES DESATUALIZADAS

Cinematógrafo, fazer pé-de-alferes, paquerar, tirar o pai da forca, rapazes, refresco de romã, sorvete de groselha, sorvete de hortelã, gasosa, papos de anjo, figos em calda, figada, pessegada, mamão em calda, cajuzinho, escalda pés, ilustre esposo, vossa esposa. Outrossim, vindouro, ‘qual é a sua graça?’, ‘quantas primaveras?, ‘qual é o nome de vosso esposo?’, cordiais saudações, ‘escrevo-lhe essas mal traçadas linhas’, ‘tomei a liberdade’, paquerar, sorumbático, macambúzio, casmurro, taciturno, alhures, aproveitamos a oportunidade, rogamos, por oportuno julgamos, conforme o assunto ventilado, assunto em tela, sendo o que nos oferece para o momento, sem outro particular, tem a presente a finalidade de, de conformidade quanto ao solicitado, mui respeitosamente, em epígrafe, peralta, soltar um quadrado, sol e chuva casamento de viúva, debaixo dos caracóis de seu cabelo, vitrola, radiola, cobra criada, vamos riscar o salão, donzela, supimpa, broto, brotinho, baile, picolé, coqueluche do momento, supimpa, discoteca, flertar, pentear macaco, meu príncipe encantado, pernas para que te quero, língua afiada, goma de mascar, cortejar, fim da picada, estou mais por fora que umbigo de vedete, você está mais por fora que joelho de escoteiro, aguardamos retorno, banana pra você, banana freguês, dobre a língua, pelas barbas do profeta, aconchego do lar, pé de chumbo, panela velha é que faz comida boa, rapazote, meretriz, moçoila, jogar peteca, é batata, colher o que plantou, açulado (instigado), adular, alcunhado, ardor, criança marota, nó cego.


Lembre-se: a língua é um processo dinâmico! Está em constante mudança! Não há o menor sentido em se usar expressões antiquadas e desatualizadas. Não importa a idade da pessoa! Uma pessoa pode ser idosa e atualizada! Especialmente em relação à língua! Atualização é um dever de todo e qualquer usuário da língua!


11. EXCESSSO DE  ENUNCIADOS NA NEGATIVA


Não raro gostava de ir ao cinema.

Não freqüentemente costumava comer doces.

Evite escrever enunciados usando o negativo. Tal fato atrapalha a clareza do texto.


12. ESTRANGEIRISMOS

Adoraria estipular um flash-back. Sou full time! Sale. E tantas outras que são usadas de maneira abusiva.

Os estrangeirismos, em excesso, mostram, via de regra, um certo esnobismo por parte de quem os usa. Cuidado!











2 comentários:

  1. Oi, prof.ª Ana! Tudo bem? Sou sua ex-aluna, do curso de Biblioteconomia da UNIFAI (2010).
    Gostei do texto e também concordo que a boa escrita vem com a prática e com o empenho, embora acredite que existe, sim, uma "inspiração" que é o que diferencia uma pessoa que escreve bem de um escritor verdadeiramente bom, que captura o leitor para o seu mundo. Acredito que seria mais ou menos como uma pessoa que aprendeu as técnicas do canto, mas não possui a voz bonita. Escutá-lo poderá ser agradável, mas nem por isso uma experiência transformadora.
    Já leu Como falar dos livros que não lemos, de Pierre Bayard? Segue link para sua apreciação... http://www.skoob.com.br/livro/16970-como-falar-dos-livros-que-nao-lemos
    Ao contrário do que o título sugere, não é um manual para leitores preguiçosos, mas sim uma discussão interessante sobre o que, de fato, é a leitura. Quando li, lembrei de você. Não sei se vai concordar com a teoria do autor, mas acho que vai apreciar a leitura...rs...
    Um beijo!

    Saudades das suas aulas...

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    1. Grande querida: gostaria de lembrá-la que inspiração sem linguagem de nada adianta! Evidentemente, que quando estamos mais porosos e sensíveis, via de regra, estamos mais potencializados para tudo. Inclusive, para escrever! Bjos

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