sábado, 7 de dezembro de 2013

Da Interpretação VII: O Universo do Receptor e os Limites da Interpretação


Ana Maria Haddad Baptista




Rose Marie Silva Haddad/Flores Azuis


Interpretar de forma coerente e entender um texto envolve, como vimos até agora, alguns procedimentos e processos. Um fator que interfere, direta ou indiretamente, no ato interpretativo é o universo do receptor.
Falar acerca do universo do receptor é lembrar que cada um de nós possui um repertório único. Em muitos aspectos: incompartilhável. Lembremos que nosso universo é constituído pelas nossas experiências vividas, sentidas. Pelas nossas leituras que incluem toda e qualquer forma de linguagem. Tudo isso e muito mais configura, de certa forma, nosso universo. Logo, as possíveis leituras que poderemos fazer ao interpretar todo e qualquer tipo de texto poderão ser diferentes e despertar diferentes reações desde que não esbarrem apenas em nossas famosas projeções subjetivas e, muitas vezes,  momentâneas. Todavia, tal fato não nos autoriza a interpretar o que quisermos como quisermos. Tal fato não nos autoriza a afirmar que cada um tem sua própria verdade. Toda interpretação envolve limites... se pensarmos no que já foi exposto e  explicamos anteriormente.
Lembremos, uma vez mais, dos elementos de materialidade de um texto: temos acima um quadro com flores azuis. Não podemos afirmar que as flores que vemos são vermelhas. Não podemos inventar que a artista estava pensando em casas amarelas. O que vemos, objetivamente, são flores azuis. Em quê a artista estava pensando quando pintou o quadro de flores azuis? Somente ela poderia nos dizer. Ela pode ter sonhado com flores amarelas e ter pintado flores azuis. Ela pode ter se lembrado de um jardim com flores...enfim...o universo da pintora é inacessível, no momento da leitura, a todos nós.
Sabe-se que nenhum texto é lido sem uma certa dependência da experiência que o receptor possui de outros textos. E finalmente devemos concluir que o ato  interpretativo está sujeito a inúmeros fatores. Naturalmente que buscamos comentar apenas os principais. Como já dissemos anteriormente: quando olhamos para o mundo já o olhamos de forma interpretativa porque carregamos no olhar nossos valores, nossa experiência, nossa memória, enfim, elementos que nos são, de certa forma, indissociáveis.
A linguagem, por sua vez, é uma cadeia sígnica. A cada momento que estivermos dando um novo significado para qualquer coisa que seja, o novo significado, não importa a linguagem, será por intermédio de novos signos. Estamos condenados a uma relação indireta com o mundo, entre outras coisas, porque somos seres mediados pela linguagem, não importa qual seja ela.
No entanto, por tudo que foi verificado neste texto jamais estaremos autorizados a dar significados particulares e subjetivos a qualquer texto que seja. Nessa medida,  estaríamos ferindo princípios universais e referenciais que já estão estabelecidos.  É necessário que se respeitem certas regras mínimas. São os limites do intérprete.










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