quarta-feira, 20 de novembro de 2013




Néctar de Letras e Imagens: Cora Coralina

Cora Coralina/Rose Marie Silva Haddad




Cora Coralina

Ana Maria Haddad Baptista

O que leva um escritor, artista, cientista ou o  bom pensador a se tornar um grande conhecido? E, também, o outro lado da moeda: o que leva um grande artista, cientista, grande pensador a permanecer, um vida inteira, no puro anonimato? Alguns, em vida,  desconhecidos, por alguma razão, ainda são reconhecidos depois de virarem puro pó. Certamente muitos homens e mulheres morreram com livros, ideias e conceitos originais que jamais a humanidade se dará conta. Meu grande Bandeira, permita, mais uma vez: estrelas da vida inteira que nunca puderam tornar público o seu brilho intenso…pena para o mundo, pena para a humanidade. Queiramos ou não sabemos que o fato é verdadeiro e, sobretudo, doloroso.
Cora Coralina ou Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas (1889-1985) quase passa despercebida não fosse o brilhantismo habitual de Carlos Drummond de Andrade.
Vintém de Cobre, por exemplo,  Editora Global, ultrapassa todos os limites de uma literatura cujos  cânones  estabelecem  fronteiras entre a prosa e a poesia. Em forma de poesia narrativa, por falta de uma terminologia mais adequada, a autora recorre a seu passado e redescobre  verdadeiras cápsulas de um tempo que ela supôs perdido, morto. Com tal procedimento desperta no leitor as mesmas sensações: Que procura você, Aninha?/Que força a fez despedaçar correntes de afetos?/ e trazê-la de volta às pedras lapidares do passado?/ Sozinha, sem medo, vinte e sete anos já passados…/ Meu vintém perdido, meu vintém de felicidade./Capacidade maior de ser eu mesma, minha afirmação constante.
O surpreendente da literatura de Cora Coralina : sua primeira publicação somente ocorreu quando a autora tinha 76 anos. Eis um bom argumento, para uma vez mais, se pensar que a boa literatura, na maioria das vezes, somente é possível após amadurecimento e muita experiência vivida. Como ela mesma afirma: Poeta é ser ambicioso, insatisfeito/ procurando no jogo das palavras,/ no imprevisto do texto, atingir a perfeição inalcançável./ O autêntico sabe que jamais/ chegará ao prêmio Nobel./O medíocre se acredita sempre perto dele./ Alguns vêm a mim./ Querem a palavra, o incentivo, a apreciação./ Que dizer a um jovem ansioso na sede precoce de lançar um livro/ Tão pobre ainda sua bagagem cultural,/ tão restrito seu vocabulário,/enxugando lágrimas que não chorou,/dores que não sentiu/sofrimentos imaginários que não experimentou.
 Quando a autora, que nasceu em Goiás, tinha noventa anos sua literatura caiu nas mãos de nosso saudoso Drummond que a tirou do quase anonimato.
Retomando: na verdade, se ela não caísse nas mãos de um autor consagrado, generoso e fascinante como o poeta mineiro, talvez, poucas pessoas tivessem acesso ao mundo de Cora Coralina.
Literatura saborosa, muitas vezes amarga, surpreende pela simplicidade e pela agudeza de uma mulher sofrida e vivida. Na obra em referência, Cora Coralina, em diversos momentos, condena a severidade  escolar e a do mundo adultos em que as vozes infantis não tinham a menor expressão. Desta forma, contribui, lucidamente, para que não tenhamos dúvidas de que o passado, que via de regra é reverenciado como exemplar pela geração presente, deva ser examinado com mais agudeza e clareza.
A leitura de Cora Coralina permite, inclusive, que todas as áreas do conhecimento, uma vez mais, repense seus critérios, suas respectivas metodologias. Por quê? Simplesmente porque, na maioria das vezes, a verdade aparentemente tão próxima de nós...escapa. Escapa como água das mãos, como pássaros assustados pressentindo a prisão de uma gaiola. Esta poeta fascinante ajudou muitas mulheres em seu tempo a encontrarem o seu caminho. Ajudou de todas as maneiras. Uma visita à sua cidade natal mostra, em parte, o quanto ela foi querida e o que fez pela humanidade, além de sua literatura que por si só já fala muita coisa.








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