sexta-feira, 15 de novembro de 2013




6. Néctar de Letras:

James Joyce e a literatura universal

Ana Maria Haddad Baptista




  Livraria em Dublin














Dublin é uma cidade muito particular. Por vários motivos. Chove quase todos os dias do ano. Chuva fininha, muitas vezes, chata! Por um outro lado as plantas ganham com isso. O verde espesso das folhas revela o conforto visual dos belos jardins que existem em Dublin. Flores por todos os lados. 
Mas o que, realmente, destaca Dublin é o fato de ser considerada a capital da literatura universal. De lá saíram, felizmente, grandes escritores. Dentre eles James Joyce (1882-1941).
Joyce, no início do século XX, resolveu escrever uma obra que compreendesse, entre outras coisas, a simultaneidade das temporalidades. E, desta forma, busca na literatura captar o tempo das personagens. Apreender subjetividades. A obra é Ulisses. Contudo, esta obra exige uma certa experiência de vida e de leitura para que possa ser entendida.
De santose sábios: escritos estéticos e políticos do escritor em questão, Editora Iluminuras, parece-nos um presente fascinante tanto para quem já conhece a obra do autor, como para quem pretende conhecê-la.
Em que consiste  esta obra? Conferências, ensaios, cartas, poemas que foram traduzidos por um grupo de estudiosos brasileiros. Cada tópico contém um breve comentário do tradutor.
Em geral os tópicos ensaísticos do autor irlandês refletem  o humor, a ironia aguda, a crítica que ele irá concretizar em suas  obras ficcionais. Destaco o tópico em que Joyce, 1903, buscou construir sua própria estética: “São belas as coisas cuja apreensão agrada. Assim, a beleza é aquela qualidade de um objeto sensível em virtude da qual sua apreensão agrada ou satisfaz o apetite estético que deseja apreender as relações mais satisfatórias do sensível. Ora, o ato da apreensão estética envolve pelo menos duas atividades, a atividade de cognição, ou percepção simples, e a atividade de recognição, ou reconhecimento.”
As questões da estética sempre foram um verdadeiro poço de dúvidas e questionamentos. Afinal, quais seriam os critérios  que poderiam  definir o belo, maravilhoso, grotesco ou predicativos enquadrados em outras classificações? Haveria um gosto universal? Joyce busca refletir tais questões a título, principalmente, de provocação.
No tópico Drama e Vida observa-se que Joyce, mesmo ainda muito jovem, traça o que o definirá como um representante exemplar da literatura: “A sociedade humana é a encarnação de leis imutáveis que estão encobertas e envolvidas pelos caprichos e pelas circunstâncias da vida dos homens e das mulheres. O reino da literatura é o reino (muito vasto) desses comportamentos e humores acidentais, e o verdadeiro artista literário se ocupa principalmente deles.”

A obra em questão além de ser um excelente exemplo de escritura, visto que Joyce é preciso, claro, provocador, possui um estilo de escritura definido, mostra uma fase de nossa história (primeiros anos do século XX) sob a perspectiva de um olhar agudo. Nessa medida, tomamos conhecimento das preocupações de um escritor que critica severamente a sociedade irlandesa ao mesmo tempo que exalta escritores e artistas dignos, a nosso ver, de serem lembrados e comentados por James Joyce.

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