segunda-feira, 12 de janeiro de 2015



Néctar de Letras: sugestões  de leitura para 2015

Ana Maria Haddad Baptista






A leitura impressa ocupa um espaço cada vez menor na vida das pessoas. A situação é crescente e não somente no Brasil. Todas as culturas do mundo concorrem com outras formas de leitura. Na maioria das vezes leituras que quase nada acrescentam às nossas subjetividades/temporalidades.
Gostaria de sugerir a leitura dos livros fascinantes, todos, de Simone de Beauvoir. A maioria dos livros da autora francesa estão esgotados. No entanto, os sebos virtuais da vida ainda possuem alguns exemplares. Uma sugestão, creio eu, imperdível: A força das coisas. Esta obra é de cunho autobiográfico. A leitura desta obra, em especial para as mulheres, nos coloca a par de uma história marcada por lutas e desafios. Vale a pena, por exemplo, a transcrição de um trecho do livro para todos aqueles que escrevem ou pretendem escrever:
 "Um defeito dos diários íntimos e das autobiografias é que, em geral, o que é 'óbvio' não é dito, e perde-se o essencial. Também eu caio nesse erro. (...) Quanto às minhas memórias, familiarizei-me com meu passado relendo cartas, velhos livros, meus diários íntimos, cotidianos. Quando sinto que estou pronta, escrevo de uma só vez trezentas ou quatrocentas páginas. É um trabalho penoso: exige intensa concentração, e a mixórdia que acumulo me causa repulsa. Ao fim de um ou dois meses, estou muito enjoada para continuar. Parto novamente do zero. Apesar dos materiais de que disponho; a página está novamente em branco, e eu hesito antes de mergulhar. (...) Faz-se muitas vezes uma ideia mais romântica da literatura. 






Mas ela me impõe essa disciplina justamente porque é algo diferente de um ofício: uma paixão ou, digamos, uma mania. Ao despertar, uma ansiedade ou um apetite me obriga a tomar imediatamente a caneta; só obedeço a uma determinação abstrata nos períodos sombrios em que duvido de tudo: então a própria determinação pode falhar. Mas, salvo em viagem, ou quando ocorrem eventos extraordinários, um dia sem escrever tem gosto de cinza. (...) Minha curiosidade é menos rude do que na minha juventude, mas quase tão exigente: nunca se acaba de aprender porque nunca se deixa de ignorar. Não quero dizer que para mim algum momento seja gratuito: nunca um instante me pareceu perdido, se me trazia um prazer. Mas através da dispersão das minhas ocupações, divertimentos, perambulações , há uma constante vontade de enriquecer meu saber. (...) A emoção mais violenta e mais sincera não dura: algumas vezes ela suscita atos, engendra manias, mas desaparece; por outro lado, uma preocupação, provisoriamente afastada, não deixa de existir: está presente no próprio cuidado que tomo de evitá-la. Muitas vezes as palavras são apenas silêncio, e o silêncio tem suas vozes."







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