Ana Maria Haddad Baptista
Rose Marie Silva Haddad/Flores Azuis |
Interpretar de forma coerente e
entender um texto envolve, como vimos até agora, alguns procedimentos e
processos. Um fator que interfere, direta ou indiretamente, no ato
interpretativo é o universo do receptor.
Falar
acerca do universo do receptor é lembrar que cada um de nós possui um
repertório único. Em muitos aspectos: incompartilhável. Lembremos que nosso
universo é constituído pelas nossas experiências vividas, sentidas. Pelas
nossas leituras que incluem toda e qualquer forma de linguagem. Tudo isso e
muito mais configura, de certa forma, nosso universo. Logo, as possíveis
leituras que poderemos fazer ao interpretar todo e qualquer tipo de texto
poderão ser diferentes e despertar diferentes reações desde que não esbarrem
apenas em nossas famosas projeções subjetivas e, muitas vezes, momentâneas.
Todavia, tal fato não nos autoriza a interpretar o que quisermos como
quisermos. Tal fato não nos autoriza a afirmar que cada um tem sua própria
verdade. Toda interpretação envolve limites... se pensarmos no que já foi
exposto e explicamos anteriormente.
Lembremos,
uma vez mais, dos elementos de materialidade de um texto: temos acima um quadro
com flores azuis. Não podemos afirmar que as flores que vemos são vermelhas. Não
podemos inventar que a artista estava pensando em casas amarelas. O que vemos,
objetivamente, são flores azuis. Em quê a artista estava pensando quando pintou
o quadro de flores azuis? Somente ela poderia nos dizer. Ela pode ter sonhado
com flores amarelas e ter pintado flores azuis. Ela pode ter se lembrado de um
jardim com flores...enfim...o universo da pintora é inacessível, no momento da
leitura, a todos nós.
Sabe-se
que nenhum texto é lido sem uma certa dependência da experiência que o receptor
possui de outros textos. E finalmente devemos concluir que o ato interpretativo está sujeito a inúmeros
fatores. Naturalmente que buscamos comentar apenas os principais. Como já
dissemos anteriormente: quando olhamos para o mundo já o olhamos de forma
interpretativa porque carregamos no olhar nossos valores, nossa experiência,
nossa memória, enfim, elementos que nos são, de certa forma, indissociáveis.
A linguagem, por sua vez, é uma
cadeia sígnica. A cada momento que estivermos dando um novo significado para
qualquer coisa que seja, o novo significado, não importa a linguagem, será por
intermédio de novos signos. Estamos condenados a uma relação indireta com o
mundo, entre outras coisas, porque somos seres mediados pela linguagem, não
importa qual seja ela.
No entanto, por tudo que foi
verificado neste texto jamais estaremos autorizados a dar significados
particulares e subjetivos a qualquer texto que seja. Nessa medida, estaríamos ferindo princípios universais e
referenciais que já estão estabelecidos. É necessário que se respeitem certas regras
mínimas. São os limites do intérprete.
Nenhum comentário:
Postar um comentário