domingo, 1 de dezembro de 2013

Da Interpretação III

Ana Maria Haddad Baptista

Breve histórico a respeito de interpretação

Sob uma das perspectivas possíveis relacionadas com interpretação, uma das principais é constantemente relacionada com Hermes. Quem foi Hermes?
Conforme a mitologia grega Hermes era filho de Zeus e de Maia. Nasceu numa caverna no Monte Cileno, ao sul da Arcádia.
Desde que nasceu deu sinais de extrema precocidade. Logo no dia em que veio ao mundo roubou parte dos bois de Apolo, ou seja: doze vacas, cem novilhas e um touro.
Com todos estes animais atravessou a Grécia da seguinte forma: amarrou nas caudas dos animais ramos com folhas para que os rastros dos animais roubados fossem apagados à medida que concluíam a travessia.
Sacrificou dois animais aos deuses olímpicos e escondeu o restante numa caverna em Pilos. Visto por um velho chamado Batos tentou comprar –lhe o silêncio e correu para a sua caverna em Cileno. Na entrada da caverna havia uma tartaruga. Hermes conservou somente o casco da tartaruga. Fez cordas de tripa dos bois sacrificados e confeccionou , assim, a primeira lira. Contudo, Apolo estava à procura dos bois roubados e os descobriu na gruta do Monte Cileno. Posteriormente, Hermes guardando o seu rebanho, inventou a flauta. Apolo desejou a flauta da mesma forma que já havia desejado a lira. Ofereceu em troca da flauta um cajado de ouro. Hermes aceitou desde que Apolo lhe desse, também, lições de adivinhação; Apolo aceitou. Hermes aperfeiçoou a arte através de pequenos seixos, aperfeiçoou, inclusive, a leitura do futuro. Zeus, satisfeito com as habilidades do filho tornou-o seu mensageiro. Foi Hermes quem salvou Zeus na luta contra Tífon. Hermes entre tantos outros atributos é considerado o intérprete da vontade divina. Na verdade, sempre que se fala em interpretação remete-se a Hermes, direta ou indiretamente.  [1]
Naturalmente, presume-se que desde o primeiro instante que o homem teve condições, das mais diversas, de interrogar acerca do mundo, houve a questão, num sentido mais amplo, de interpretação, independente da escrita, que, sabe-se, vai ser o marco de uma outra história.
Entretanto, as questões relacionadas com interpretação deverão tomar um rumo mais indagativo a partir da escrita, visto que esta inaugura uma outra forma de memória. A partir da escrita a memória individual ocupará um espaço muito diferente, visto que a escrita , entre tantas outras coisas que poderiam ser enumeradas, inaugura um novo momento: a memória exterior ao homem, o registro. A memória está nesse momento fora do homem.
A linguagem escrita, o registro, conforme se sabe, traçará novos parâmetros para a humanidade, em todos os sentidos, especialmente, os de interpretação.
Interpretar sugere a busca, sempre incansável, de um sentido e de uma significação de algo que seja ‘verdadeiro’. Supõe-se a busca de uma verdade, ou daquilo que esteja mais próximo do verdadeiro sentido. Conforme se vê, tal fato implica em muitas outras coisas que devem ser consideradas em se tratando de interpretação.








[1] Ruth Guimarães, Dicionário da Mitologia Grega, p.p. 175-176-177.

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