Néctar de Letras e de Imagens:
Do Tempo e das Temporalidades I
Ana Maria Haddad Baptista
Rios que fluem
movimento
Em algum momento do passado
da humanidade, certamente, alguém contemplando o mar, ou, contemplando a
natureza como um todo, pensou: em que reside o movimento? A Terra, o Universo e
tudo o que nos rodeia são processos fixos ou mutáveis? E, possivelmente, vieram
as primeiras ideias, mesmo que vagas, de um tempo. Pelos registros que sobreviveram
até hoje, tudo indica que os habitantes
mais antigos da Terra pensaram que tudo fosse fixo. O conceito da fixidez. Da
imutabilidade. Da constância. Do que não muda. Nossos ancestrais não tinham
como imaginar, diante das condições objetivas que se mostravam naquele momento, que, na
verdade, tudo está em perpétuo movimento. Uma das primeiras imagens de
movimento foi dada por Heráclito. Os famosos rios que fluem. E como tais...
nunca mais são e serão os mesmos.
Possivelmente, tudo indica,
deve ter vindo o conceito da repetibilidade cíclica. O dia e a noite. O
nascimento e a morte. Os ciclos constantes da natureza. Processo que partem e,
depois, voltam.
Modernamente a humanidade tem abstração suficiente para
definir um tempo que pertence somente a cada um de nós. O famoso tempo
subjetivo. Tempo em desacordo com relógios. Tempo em desacordo com a natureza.
Tempo em desacordo total com qualquer conceito que venha de fora. O tempo
subjetivo diz respeito a como cada um de nós sente o tempo. O sentir de uma
temporalidade que nos diz respeito num certo momento, uma espécie de
temporalidade circunstancial, como por exemplo:
“Para mim, o tempo é fim. Ele
determina em minha vida a passagem das coisas, das pessoas, dos
momentos...Desde que me dei conta do tempo e passei a senti-lo como se suas
garras tomassem minha vida aos poucos,
percebi o quanto ele é rápido.” (aluna da UNINOVE/2o. Semestre
noturno)
O tempo é uma dimensão da
humanidade tão paradoxal que poucos se atrevem a discuti-lo. Contudo, Paulo
Ricoeur, entre tantos outros, grande estudioso e pesquisador do assunto, possui
um dos mais belos conceitos a respeito do tempo: “Continuo a pensar que
existirão sempre duas leituras do tempo: uma leitura cosmológica e uma leitura
psicológica, um tempo do mundo e um tempo da alma. E que o tempo escapa à
pretensão de unificação. O que me conduz diretamente ao tema kantiano da
imperscrutabilidade do tempo: o tempo avança, corre, e até o fato de dele se
falar só através de metáforas mostra que não temos domínio sobre ele, não
apenas prático, evidentemente, ou instrumental, como também conceptual.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário