6. Néctar de Letras:
James Joyce e a literatura universal
Ana Maria Haddad Baptista
Dublin é uma cidade muito particular. Por vários motivos. Chove quase todos os dias do ano. Chuva fininha, muitas vezes, chata! Por um outro lado as plantas ganham com isso. O verde espesso das folhas revela o conforto visual dos belos jardins que existem em Dublin. Flores por todos os lados.
Mas o que, realmente, destaca Dublin é o fato de ser considerada a capital da literatura universal. De lá saíram, felizmente, grandes escritores. Dentre eles James Joyce (1882-1941).
Joyce, no início do século XX, resolveu escrever uma obra que compreendesse, entre outras coisas, a simultaneidade das temporalidades. E, desta forma, busca na literatura captar o tempo das personagens. Apreender subjetividades. A obra é Ulisses. Contudo, esta obra exige uma certa experiência de vida e de leitura para que possa ser entendida.
De santose sábios: escritos estéticos e políticos do escritor em questão, Editora Iluminuras, parece-nos um presente fascinante tanto para quem já conhece a obra do autor, como para quem pretende conhecê-la.
Em que consiste esta obra? Conferências, ensaios, cartas,
poemas que foram traduzidos por um grupo de estudiosos brasileiros. Cada tópico
contém um breve comentário do tradutor.
Em geral os tópicos
ensaísticos do autor irlandês refletem o
humor, a ironia aguda, a crítica que ele irá concretizar em suas obras ficcionais. Destaco o tópico em que
Joyce, 1903, buscou construir sua própria estética: “São belas as coisas cuja
apreensão agrada. Assim, a beleza é aquela qualidade de um objeto sensível em
virtude da qual sua apreensão agrada ou satisfaz o apetite estético que deseja
apreender as relações mais satisfatórias do sensível. Ora, o ato da apreensão
estética envolve pelo menos duas atividades, a atividade de cognição, ou
percepção simples, e a atividade de recognição, ou reconhecimento.”
As questões da estética
sempre foram um verdadeiro poço de dúvidas e questionamentos. Afinal, quais
seriam os critérios que poderiam definir o belo, maravilhoso, grotesco ou
predicativos enquadrados em outras classificações? Haveria um gosto universal? Joyce
busca refletir tais questões a título, principalmente, de provocação.
No tópico Drama e Vida
observa-se que Joyce, mesmo ainda muito jovem, traça o que o definirá como um
representante exemplar da literatura: “A sociedade humana é a encarnação de
leis imutáveis que estão encobertas e envolvidas pelos caprichos e pelas
circunstâncias da vida dos homens e das mulheres. O reino da literatura é o
reino (muito vasto) desses comportamentos e humores acidentais, e o verdadeiro
artista literário se ocupa principalmente deles.”
A obra em questão além de ser
um excelente exemplo de escritura, visto que Joyce é preciso, claro,
provocador, possui um estilo de escritura definido, mostra uma fase de nossa
história (primeiros anos do século XX) sob a perspectiva de um olhar agudo.
Nessa medida, tomamos conhecimento das preocupações de um escritor que critica
severamente a sociedade irlandesa ao mesmo tempo que exalta escritores e
artistas dignos, a nosso ver, de serem lembrados e comentados por James Joyce.
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