Néctar de Letras
Da Interpretação III
Ana Maria Haddad Baptista
Primeiramente gostaria de lembrar, como muitos estudiosos já fizeram, que cada linguagem possui limites e possibilidades. A linguagem escrita, por exemplo, solicita do receptor, um grande grau de abstração, visto que trabalha com o ausente. Desta forma, quando leio uma palavra, é necessário que eu imagine o objeto.Quando leio um livro preciso imaginar as personagens, os lugares, enfim, a minha imaginação, em maior ou menor grau, precisa entrar em ação para que a leitura/interpretação se complete.
Contudo, quando lidamos com outras linguagens, como por exemplo, com a pintura, as coisas mudam. Uma pintura figurativa já indica o objeto. As cores, o brilho, o movimento e outros elementos que constituem a linguagem pictórica.
No quadro em questão temos uma mulher que contempla o luar. Aqui e para todos os tipos de textos podemos fazer associações
subjetivas. Qual a minha associação? Meramente subjetiva...lembro-me, quando vejo esta pintura, de um belo poema de um escritor simbolista brasileiro.
Eis o poema:
Ismália
Alphonsus de Guimaraens
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
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