Interpretação e Memória:
Helenas
Ana Maria Haddad Baptista
HELENA/Rose Marie Silva Haddad |
Uma das grandes
dificuldades para se interpretar, devidamente e com maior exatidão, um texto,
seja ele conceitual, seja ele um texto literário, ou mesmo a realidade que nos
permeia, tem sido a ausência de referenciais, em todos os sentidos e graus.
Vejamos um caso bem
atual: uma telenovela global. Nada contra as telenovelas. Aliás, muitas
problematizam situações dignas de serem discutidas como, via de regra, tem
ocorrido no cenário brasileiro. Entretanto, a nova novela global anunciada
possui uma personagem chamada Helena! E o autor da telenovela já escreveu
outras com personagens marcantes cujo nome foi Helena. O que tem ocorrido?
Reportagens de tv e revistas em geral discutem Helena como se o autor tivesse
sido o primeiro a construir uma personagem marcante chamada Helena! Ora! Por
que ninguém faz a mínima alusão à primeira Helena do Ocidente que grande parte
das pessoas deveriam conhecer? Porque faltam referenciais.
Homero há muito mais
de 2000 mil anos construiu a Helena de Troia:
Helena paralisa quando avista a arca,
onde pan-ofuscavam pelos que tecera.
Divina entre as mulheres, Helena escolheu
o mais belo, o maior, o que mais rutilava,
uma estela de luz, sob os demais, por último.
Creio, convicta, que
o fragmento exposto anuncia o que representa uma das maiores obras literárias
de nossa cultura: Odisseia de Homero.
Contudo, lembro que
nosso grandioso Machado de Assis não deixou por menos em pleno século XIX. Helena do autor brasileiro é um belo
romance numa perspectiva romântica. A personagem possui uma construção
irrepreensível! O ideal romântico permeia uma Helena delicada e, sobretudo, singular!
Retomando: nada
contra as telenovelas, contudo, saibamos olhar com maior clareza a realidade
que nos rodeia para não cair em armadilhas interpretativas. Muitas Helenas já foram construídas em épocas
anteriores. E aqui fica um grande convite a todos: que tal lermos, mesmo que
algumas partes, da Odisseia de Homero? Que tal lermos Helena do fascinante
Machado de Assis?
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