Néctar de Letras: Como se aprende a escrever? Escrevendo!
Ana Maria Haddad Baptista
Como escrever?
Escrever é um ato bastante distinto de falar visto que o ato de
escrever exige, conforme se sabe, maior rigor gramatical, encadeamento lógico
de idéias e outros elementos característicos do exercício de escrever.
A verdade é que escrever só se aprende escrevendo. Como aprendemos a
dirigir um carro? Dirigindo-o! Como aprendemos a nadar? Nadando. Como
aprendemos a amar? Diria o nosso querido poeta Carlos D de Andrade: amar se
aprende amando. Ninguém nasce sabendo escrever. Não há inspiração. As Musas
estão no Olimpo muito calmas nos dias de hoje.
Muitas pessoas ‘acham’ que para escrever, principalmente, um texto
‘literário’, basta uma boa inspiração e,
de repente, o texto sai pronto, como num passe de mágica. Nada mais improvável.
As palavras não brotam do nada. Para escrever é necessário que haja REPERTÓRIO.
Como adquirir um bom repertório? Lendo! Não somente romances, poemas e outros
do gênero. Vários tipos de textos favorecem a aquisição de um bom repertório de
linguagem. Romances, poemas, jornais, revistas, leitura de mundo, experiência e
muitos outros elementos formam, gradativamente, o repertório de uma pessoa.
Apontaremos, neste texto,
alguns pontos que poderão ajudá-lo na hora da redação de qualquer tipo de
texto. Ora jornalístico, ora monográfico, ou seja, pontos gerais que deveriam
ser pensados sempre que alguém pensasse em escrever qualquer espécie de texto.
1. Estruturação
textual
Como deve ser estruturado um texto? Lembrando que um texto pode ser uma
carta, uma reportagem, uma monografia e
outros.
Naturalmente deve possuir uma introdução, visto que será o início de
tudo, logo, deve introduzir de forma clara e objetiva o que se pretende
desenvolver depois.
Qual deve ser o tamanho de uma
introdução? Depende do tamanho do que se virá depois. Caso seja uma monografia
ou um trabalho, possivelmente, a introdução terá uma página. Se for uma tese de
doutorado deverá possuir, no mínimo, dez páginas, se for uma carta deverá ser
um parágrafo de mais ou menos cinco linhas e assim por diante. Toda introdução
de um texto deverá ser proporcional ao desenvolvimento que se dará a ele.
Exemplo:
Introdução
Nenhuma idéia da ficção científica cativou tanto a imaginação humana
quanto a viagem no tempo. O que você faria se tivesse uma máquina do tempo?
Você poderia ir ao futuro e tirar umas férias no século XXII. Poderia trazer de
volta uma cura para o câncer.
Então, novamente, poderia retornar ao passado para salvar uma pessoa
amada que você perdeu. Poderia matar Hitler e evitar a Segunda Guerra Mundial
ou reservar uma passagem no Titanic para
avisar o capitão sobre o icerbeg. Mas e se o capitão ignorasse seu aviso, como
fez com todos os outros avisos sobre icebergs que tinha recebido, de maneira
que o grande navio afundasse, apesar de tudo? Em outras palavras, será que a
viagem no tempo permitiria que você alterasse o passado? A noção de viagens no
tempo para o passado sugere paradoxos. E se, numa excursão ao passado, você
acidentalmente matasse sua avó antes que ela desse à luz a sua mãe?
Veja que a introdução em referência aponta de forma clara e objetiva o
que deverá desenvolver posteriormente.
O autor, Richard Gott, expõe as idéias iniciais do que deverá
argumentar durante o texto.
Desenvolvimento
Mesmo que seja impossível alterar o passado, ir até lá ainda poderia
ser bem interessante. Mesmo que você não pudesse alterar a história do curso
que sabemos que ela tomou, ainda poderia participar da formação dessa história.
Por exemplo, você poderia voltar no tempo para ajudar os Aliados a ganhar
a Batalha do Bulge na Segunda Guerra
Mundial. As pessoas adoram representar
as Batalhas da Guerra Civil – e se fosse possível participar do acontecimento
real? Escolher uma batalha vencida
pelo seu lado lhe daria a emoção de participar da experiência, além da sensação segura de
conhecer o desfecho. De fato, poderia acabar constatando que, no final, o curso
da batalha foi desviado por turista do futuro. De fato, as pessoas cujo
pensamento estava muito a frente de próprio tempo, como Júlio Verne e Leonardo
da Vinci, forma às vezes acusadas de serem viajantes do tempo.
Se optasse por embarcar em uma viagem no tempo, você poderia criar um
itinerário impressionante. Poderia conhecer figuras históricas como Buda, Maomé
ou Moisés. Poderia verificar qual era realmente a aparência de Cleópatra ou
assistir à primeira produção de Hamlet de Shapespeare. Poderia se posicionar...
A esperança de que, algum dia, tal liberdade será nossa, cresce quando
observamos que muitas façanhas antes consideradas impossíveis foram realizadas
e são até consideradas necessariamente certas.
Considere...
As ideias sendo tecidas de forma clara e coerente.
O importante, neste momento, é observar como o autor estruturou o
texto, ou seja, em partes. Não há parágrafos muito longos, embora o primeiro
parágrafo esteja no limite, isto é, de 12 a 14 linhas.
Outro
exemplo (inclusive sem o espaço paragráfico ):
Introdução
Em sentido amplo, conhecimento é o atributo que tem o homem de reagir
frente ao meio que o cerca. Dessa forma, podemos distinguir três tipos de
conhecimento: o empírico, o científico e o filosófico.
Desenvolvimento
Com
relação ao primeiro, constatamos que, através dele, se apreende a aparência das
coisas. Assim, observamos que o conhecimento empírico está situado na esfera do
particular.
Quanto
ao conhecimento filosófico, percebemos que o mesmo vai buscar a essência dos
ser, já que o cientista, permanecendo na faixa do físico, não consegue
atingi-la.
Em
se tratando, porém, do conhecimento científico, observamos que o mesmo é
orientado, sistemático e formal. A pesquisa científica exige método e
ordenação. Conhecer alguma coisa é analisá-la profundamente, obedecendo a uma
série de etapas e fatores. Essa persistência da busca é que vai permitir ao
espírito científico equacionar o problema.
Por
outro lado, a natureza, porque cognoscível, penetrável e investigável, é o
objeto do conhecimento científico. Assim, ela não pode (como compreendia o
homem primitivo) ser encarada como um complexo de forças misteriosas e
inexoráveis.
Conclusão
Deve estar relacionada com o assunto desenvolvido e sintetizar as
idéias finais a respeito do que foi argumentado.
Depreende-se
do texto em questão a estruturação textual em parágrafos curtos, facilitando o
entendimento do receptor, ao mesmo tempo que facilita a ordenação e o
encadeamento das idéias do autor. Por isso aconselhamos uma estruturação textual baseada
em PARÁGRAFOS CURTOS .
O que é um parágrafo?
Parágrafo,
por definição, é uma unidade textual, redacional. Serve para tornar o texto
(como um todo) divisível em partes menores, naturalmente, tendo-se em vista
diversos enfoques.
O parágrafo deverá conter uma
idéia-núcleo, ou seja, a idéia principal acerca do que se pretende desenvolver
no interior do parágrafo.
Sugere-se, aos que possuem
dificuldade na comunicação escrita, que busquem frases e orações CURTAS para
não se perderem no encadeamento lógico de suas idéias. Lembre-se: o importante
em todo ato de comunicação é a SIGNIFICAÇÃO.
Nada pior para um receptor do que ficar SOFRENDO para poder entender um texto e
tal fato ocorre por inúmeros motivos. Eis os principais defeitos em enunciados... defeitos que atrapalham a CLAREZA, CONCISÃO, SIGNIFICAÇÃO, HARMONIA, ELEGÂNCIA,
O PODER DE INFORMAÇÃO E A CONSTRUÇÃO DO
SENTIDO de todo e qualquer tipo de texto:
1.
FALTA DE CLAREZA
Ontem vi o elefante de seu cunhado.
Vendem-se apartamentos com zelador.
Comprei um cobertor para casal de lã
sintética.
Comprei um sofá para três pessoas de
couro.
Vi a cobra de sua sogra.
Amanhã verei o pato de seu irmão.
2. AUSÊNCIA DE HARMONIA
Janjão, o gostosão, gosta de melão do
Maranhão.
Vesti um vestido de veludo verde vindo de Vitória.
A manga madura do mato matou Marieta Matos que veio de Matão.
3. RIMAS DESNECESSÁRIAS
O Timão de meu coração deu de cinco a
zero no Verdão que levou um sustão!
Quando te vi subi num pé de caqui e
nunca mais desci!
Vou a Arujá tomar sorvete de maracujá
do Paraná.
O peru estava nu e cru.
Que mal há no festival de carnaval de
Lamaçal?
A ilusão está presente em todo
coração.
A solidão é uma ilusão que mata o coração
de paixão.
A crueldade é uma grande maldade.
4. REPETIÇÃO DE PALAVRAS E IDÉIAS
A Educação é um processo gradativo,
mas a Educação tem sido alvo de muitas polêmicas neste país porque a Educação é
um passo importante no processo de qualquer país, portanto a Educação tem sido
alvo de discussão de muitos países.
5. EXCESSO DE ‘QUE’
Espero
que nossa argumentação que foi baseado em muitos fatos que marcaram o século
passado que foi um século de muitos acontecimentos...
6. PROLIXIDADE OU AUSÊNCIA DE CONCISÃO
É uma realidade tradicional e
costumeira que a diversão popular – e ela abrange várias modalidades
circunscritas a épocas ou regiões diversas -
geralmente é oferecida ao povo (podemos remontar à Roma Antiga), visando
não só ao objetivo precípuo da diversão (dar lazer a quem dele necessite), mas
sim visando a uma alienação dos seres humanos e pensantes à situação política
vigente, para que eles não pensem na fome, na miséria e na injustiça, suas
companheiras constantes de infortúnio, dor e desespero.
A prolixidade é um dos piores
defeitos de um texto. Torna-o enjoativo, cheio de informações desnecessárias e
jamais seduz o receptor. Nada mais desagradável do que um texto prolixo.
7. MARCAS DE ORALIDADE
Então eu vi o acidente e assim... foi
tudo muito rápido meu! Precisa ver galera, então eu peguei a filmadora de meus
pais, daí fui filmando tudo e assim ... fui filmando o carro daí levei a
bagagem para um outro lugar e então...Assim, meu, não deu certo veio, assim,
não vi tudo, mais e daí, não é mano?
Lembre-se:
a linguagem escrita é distinta da linguagem falada.
8. EXCESSO DE ADVÉBIOS
As chuvas invadiram a casa e definitivamente, os móveis foram
danificados infinitamente, principalmente porque não eram de madeira e
especialmente porque eram de um material muito mais perecível do que a madeira.
Lembre-se: o excesso de advérbios retira
a força do texto.
9. EXCESSO DE ADJETIVOS
A rua da cidade era muito bela, maravilhosa, para dizer a verdade era
uma rua esplêndida! Que rua linda! Jamais vou esquecer o quanto aquela rua era
marcante, arborizada e ensolarada!
Lembre-se: o texto ideal contém
poucos adjetivos. O excesso de adjetivos retira a força do texto. Por quê?
Porque os adjetivos, em relação aos substantivos, são, muitas vezes,
transitórios, passam com mais facilidade. Além do mais, texto bom é aquele
substantivado!
10. PALAVRAS E EXPRESSÕES DESATUALIZADAS
Cinematógrafo,
fazer pé-de-alferes, paquerar, tirar o pai da forca, rapazes, refresco de romã,
sorvete de groselha, sorvete de hortelã, gasosa, papos de anjo, figos em calda,
figada, pessegada, mamão em calda, cajuzinho, escalda pés, ilustre esposo,
vossa esposa. Outrossim, vindouro, ‘qual é a sua graça?’, ‘quantas primaveras?,
‘qual é o nome de vosso esposo?’, cordiais saudações, ‘escrevo-lhe essas mal
traçadas linhas’, ‘tomei a liberdade’, paquerar, sorumbático, macambúzio,
casmurro, taciturno, alhures, aproveitamos a oportunidade, rogamos, por
oportuno julgamos, conforme o assunto ventilado, assunto em tela, sendo o que
nos oferece para o momento, sem outro particular, tem a presente a finalidade
de, de conformidade quanto ao solicitado, mui respeitosamente, em epígrafe,
peralta, soltar um quadrado, sol e chuva casamento de viúva, debaixo dos
caracóis de seu cabelo, vitrola, radiola, cobra criada, vamos riscar o salão,
donzela, supimpa, broto, brotinho, baile, picolé, coqueluche do momento,
supimpa, discoteca, flertar, pentear macaco, meu príncipe encantado, pernas
para que te quero, língua afiada, goma de mascar, cortejar, fim da picada,
estou mais por fora que umbigo de vedete, você está mais por fora que joelho de
escoteiro, aguardamos retorno, banana pra você, banana freguês, dobre a língua,
pelas barbas do profeta, aconchego do lar, pé de chumbo, panela velha é que faz
comida boa, rapazote, meretriz, moçoila, jogar peteca, é batata, colher o que
plantou, açulado (instigado), adular, alcunhado, ardor, criança marota, nó
cego.
Lembre-se: a língua é um processo dinâmico!
Está em constante mudança! Não há o menor sentido em se usar expressões
antiquadas e desatualizadas. Não importa a idade da pessoa! Uma pessoa pode ser
idosa e atualizada! Especialmente em relação à língua! Atualização é um dever
de todo e qualquer usuário da língua!
11. EXCESSSO DE ENUNCIADOS NA NEGATIVA
Não raro
gostava de ir ao cinema.
Não
freqüentemente costumava comer doces.
Evite escrever enunciados usando o
negativo. Tal fato atrapalha a clareza do texto.
12. ESTRANGEIRISMOS
Adoraria
estipular um flash-back. Sou full time! Sale. E tantas outras que são usadas de
maneira abusiva.
Os estrangeirismos, em excesso,
mostram, via de regra, um certo esnobismo por parte de quem os usa. Cuidado!