Carta a Gabriel García Márquez
Ana Maria Haddad Baptista
Querido Gabo,
Em Macondo, crônica de uma
morte anunciada, há algum tempo, se fez uma dimensão possível do que denominam
real. Mas. Em Macondo muitas coisas beiram o fantástico. Revoa,oa,oa,oa,oa,oa,oa...,
entre as pessoas da aldeia, a seguinte história:
Dizem que você, ontem, depois
da leveza insustentável de um sono advindo das profundezas...o irretornável,
voou para os céus. E, ao entrar, não gostou nada...nada do que viu! Os céus
estavam quase vazios. A tal ponto que o povo,
por lá, estava lendo com tanta atenção, Cem
anos de solidão, que mal notou seus olhos observadores. Dizem, em Macondo,
que você ficou decepcionado com a calmaria e ao pensar em mudar de rumo, eis
que Pégasos passa e pergunta se queria uma carona para o Olimpo. Dizem, em
Macondo, que você nem hesitou. Montou com destreza em Pégasos. Contudo, dizem,
pediu para dar umas voltas pelas
memórias universais. Pégasos obedeceu. Mas. Dizem, em Macondo, que quando você
chegou no Olimpo, Mnemósine, a tal da deusa da memória, foi correndo encontrá-lo.
Aliás, ela já te esperava com ambrosia e tudo o mais. Dizem, em Macondo, que
você sorriu muito. Irresponsavelmente. De longe já avistou Borges que, feliz,
passeava em meio a jardins de livros que se bifurcavam. Dizem as más línguas
(como sempre) que Saramago, ao sabor dos ventos olímpicos, estava a tomar um belo vinho espanhol e
discutia, em voz alta (quase duplicada), o evangelho, com Jesus Cristo. Octavio
Paz nem interveio. Obstinado, reescrevia o labirinto da solidão. Mas. Zeus veio
correndo cumprimentá-lo. Afinal, ele teria comentado... havia muito tempo que o
Olimpo não recebia pessoas de tanto gaborito!
Guimarães Rosa, imagine, passeava, por
rios caudalosos, com Diadorim. Dizem que até de mãos dadas...Nada mais
engenhoso do que as más línguas! Desde que o imundo é mundo.
De repente Mnemósine
interrompe sua conversa com Zeus. Aflita. Muito aflita. Quase chorando. Pega
você por mãos mais macias que algodão em flocos. Guia-o por labirintos
indiscerníveis do Olimpo. E, finalmente, pede que você console as nove Musas
que choram. Lágrimas de cristais cintilam. Dizem lá, em Macondo, que elas não
param de indagar: E agora? Aos ouvidos de quem iremos sussurrar? Cantar?
Mentir? De quem? De quem? De quem? De
quem? De quem? De quem? De quem? De quem? De quem?
Ana, que coisa mais linda!
ResponderExcluirMárquez pode ser considerado um dos maiores escritores de todos os tempos. Profundo conhecedor da natureza humana e, consequentemente, de suas misérias.
ExcluirObrigada minha querida.
Excluir