Néctar de
Letras: Kavafis
Ana Maria Haddad Baptista
Após uma pausa, concedida, em parte, pelo feriado
de 21 de abril, que tal um pouco de reflexão por meio de uma literatura
fascinante? Kaváfis:
Os Cavalos
de Aquiles
Quando viram Pátroclo morto,
que era tão valente, e forte, e jovem,
começaram os cavalos de Aquiles a chorar;
sua natureza imortal se indignava
por esta obra da morte que contemplava.
Sacudiam suas cabeças e agitavam suas longas
crinas,
batiam no chão com as patas e lamentavam
Pátroclo que reconheciam sem vida - aniquilado -
uma carne agora ignóbil - seu espírito perdido -
indefeso - sem alento -
restituído da vida ao grande Nada.
Zeus viu as lágrimas dos imortais
cavalos e afligiu-se. "No matrimônio de
Peleu",
disse, "eu não devia assim irrefletidamente
agir;
melhor que não vos tivéssemos dado meus cavalos
infelizes! Que procurais lá em baixo,
na miserável humanidade, que é joguete do destino?
Vós a quem nem a morte arma cilada, nem a velhice,
efêmeras desventuras vos torturam. Em seus
tormentos
vos envolveram os homens". Contudo, suas
lágrimas
pela eterna desventura da morte
derramavam os dois nobres animais.
Konstantinos Kavafis nasceu na cidade Alexandria, (na época era um centro comercial grego importante), em 1863. Kavafis é
considerado, pela crítica literária, um
poeta original, importante e pertence à literatura grega moderna. Morreu em
1933.
O que nos diz sua literatura em termos mais gerais?
Reflexões existencialistas. Estabelece diálogos profundos entre um passado
distante e sua época. No poema Os cavalos de Aquiles observa-se a
problemática entre a finitude e a infinitude. A habitual miserabilidade humana.
Se Kavafis, juntamente com Pátroclo, retornassem do Nada à vida, veriam que quase
nada mudou. E os cavalos de Aquiles
continuariam chorando...refugiados degolados pelos mares mediterrâneos...povos
se alimentando de esgotos escrotos...favorecidos passeando com papagaios,
araras, lindos cães, macaquinhos...ursos polares tratados como hóspedes da
realeza...!
Como sempre magnífica em suas interpretações! Minha eterna professora.
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