Museu, tempo-memória, desmemórias
Ana Maria Haddad Baptista
Museu
Há
pratos, mas falta apetite.
Há
alianças, mas o amor recíproco se foi
há
pelo menos trezentos anos.
Há
um leque – onde os rubores?
Há
espadas – onde a ira?
E
o alaúde nem ressoa na hora sombria.
Por
falta de eternidade
juntaram
dez mil velharias.
Um
bedel bolorento tira um doce cochilo,
o
bigode pendido sobre a vitrine.
Metais,
argila, pluma de pássaro
triunfam
silenciosos no tempo.
Só
dá risadinhas a presilha da jovem
risonha do Egito.
A
coroa sobreviveu à cabeça.
A
mão perdeu para a luva.
A
bota direita derrotou a perna.
Quanto
a mim, vou vivendo, acreditem.
Minha
competição com o vestido continua.
E
que teimosia a dele!
E
como ele adoraria sobreviver! [Wislawa Szymborska]
Mundo onde imperam desmemórias...
nada como uma travessia poética para exercitar o pensamento.